Você sabia que o cérebro de quem está no pecado é o mesmo de um viciado em drogas? E que o pecado afeta a memória e a razão?
Olá, pessoal! Eu sou Ítalo Xavier, neurocientista, e hoje vamos mergulhar em um tópico fascinante e crucial: o impacto do pecado no cérebro, à luz da neurociência.
Eu já tenho alguns anos de pesquisa na área da neurociência e de como a vida espiritual cristã afeta o cérebro de forma positiva. Venho discutindo e incentivando o poder da oração no controle e saúde mental, com fundamentos da ciência, caminhando pela luz da fé. É um baita desafio juntar os dois, sabe…
Mas quando o Espírito Santo me inspirou a discutir sobre o assunto deste artigo eu particularmente fiquei empolgado para partilhar com você.
Acompanhe este artigo e explore como o pecado pode literalmente mudar a estrutura do nosso cérebro, além de aprender estratégias para romper esses ciclos prejudiciais.
É importante que você compreenda o percurso que será feito neste artigo para que você não se sinta perdido. Porque eu tenho que admitir, embora eu tenha uma certa facilidade no assunto, o desafio é mastigar este assunto complexo, para que você possa de fato compreender. Mas vamos lá.
O que você vai encontrar neste artigo:
A definição de pecado;
Aonde o pecado opera no homem;
O pecado é um ciclo na mente;
O pecado envolve estruturas cerebrais semelhantes aos viciados em droga;
É possível romper o ciclo do pecado/vício com 3 operações espirituais;
Materiais detalhados sobre este assunto.
Boa leitura!
Definição de Pecado e seu Estado
"O pecado está presente na história do homem. Seria vão tentar ignorá-lo ou dar outros nomes a esta obscura realidade. Para compreender o que é o pecado, temos primeiro de reconhecer o laço profundo que une o homem a Deus, porque, fora desta relação, o mal do pecado não é desmascarado na sua verdadeira identidade de recusa e oposição a Deus, embora continue a pesar na vida do homem e na história" (Catecismo §386, 2000).
Você, por natureza, tem mais união a Deus do que imagina:
“Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1,26)
“Antes de seres concebido no ventre de tua mãe eu já te conhecia” (Jeremias 1,5)
“A realidade do pecado e, dum modo particular, a do pecado das origens, só se esclarece à luz da Revelação divina. Só no conhecimento do desígnio de Deus sobre o homem é que se compreende que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-Lo e amarem-se mutuamente” (Catecismo §387, 2000).
O afastamento de Deus por parte do homem tem como origem o pecado espiritual e a queda de lúcifer, culminando na sedução do homem. No Concílio de Latrão de 1215 (DS800), a Igreja ensina que os espíritos decaídos foram criados bons, mas pela livre escolha e iniciativa caíram diante de Deus. “A morte, porém, por inveja do diabo, entrou no mundo, e a experimentarão os que a ele pertencem” (Sabedoria 2,24).
Se você gostaria de saber mais sobre a queda dos demônios, a figura de São Miguel, angelologia e como obter mais inteligência espiritual nestes momentos difíceis, acesse o meu livro ‘A Verdadeira Devoção Miguelina - Um Caminho de Vitoria e Inteligência Espiritual com São Miguel Arcanjo’. Lá você verá a importância da vigilância, discernimento dos espíritos, o poder dos sacramentos, dicas espirituais para vencer as batalhas que travamos nos últimos dias e orações específicas.
O Pecado como Aprisionamento
O pecado é um aprisionamento, uma dependência, um ciclo vicioso, um hábito que abrange uma operação material (carnal, físico), moral (personalidade, caráter e atitude) e espiritual (dispersão do espírito, concupiscência e influência maligna). O resultado disto é um escândalo pessoal, desordem interior e exterior, dirigido por vaidade, orgulho, inveja e puro afastamento de Deus em todos os níveis.
“O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a recta consciência” (CIC 1849).
O efeito do pecado é a morte, a atrofia, o vazio, a desestruturação, a insignificação. “O fruto do pecado é a morte” (Romanos 6,23).
O Impacto do Pecado no Corpo e na Mente
O pecado causa uma inconsciência ao juízo, um borrão na moral, e um péssimo odor no coração (mente) por meio dos vícios. Mas são pelas virtudes que a mente se torna consciente sob um juízo verdadeiro. As virtudes são o motor para elevar esta alma do pecado para o nível de santidade, primeiro as virtudes que são humanamente praticadas (virtudes humanas) e as virtudes que só Deus concede (virtudes teologais). Mas a verdade é que, sem as virtudes de Deus pela graça, o homem é incapaz de ser bom, definitivamente.
Eu costumo chamar as virtudes de vitaminas celestes…
“Não é fácil, ao homem ferido pelo pecado, manter o equilíbrio moral. O dom da salvação, que nos veio por Cristo, dá-nos a graça necessária para perseverar na busca das virtudes. Cada qual deve pedir constantemente esta graça de luz e de força, recorrer aos sacramentos, cooperar com o Espírito Santo e seguir os seus apelos a amar o bem e acautelar-se do mal” (CIC 1811).
“Dotada de uma alma (espiritual e imortal) a pessoa humana é (a única criatura sobre a terra querida por Deus por si mesma). Desde que é concebida, é destinada para a bem-aventurança eterna” (CIC 1703).
A Busca pelo Prazer
Há no homem um direcionamento destinado a algo transcendental, a algo superior, ao amor, ao infinito, e tudo isto é Deus. Porém, pela corrupção das paixões, o homem em seu discernimento afetado, no pecado, busca o amor fora da fonte, em coisas terrenas, temporárias, pessoas, significados, experiências, dinheiro, cargo, etc. E sim, o resultado em acessar este “amor” é a resposta da criação de Deus, o gozo, uma recompensa. A qual conhecemos e sempre falamos. O sistema de recompensa. A dopamina. O prazer.
Triste o homem que busca o prazer a todo custo, não? Ou que seja, escravo de tal prazer…
O Pecado como Ciclo Mental
Do ponto de vista da neurociência, este ciclo de se manter no pecado traz consequências. E eu quero te mostrar agora!
Trazendo uma situação mais extrema, de um viciado em droga, já sabemos que a inclinação deste ser, dotado de corpo, alma e espírito, está no efeito que a substância causa em si. Como sabemos, o efeito de uma droga sintetizada e o consumo desregrado de celular é o mesmo. Então não ache que um drogado difere de uma pessoa que se masturba, consome celular desregradamente ou adultera.
“Que todo o vosso espírito, toda a vossa alma e corpo se conservem, sem mancha para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5,23).
Estruturas Cerebrais
Todas as formas de vício são conhecidas por envolver a via dopaminérgica mesolímbica (DA), que se origina na área tegmental ventral (VTA) e projeta-se no núcleo accumbens (NAcc), formando o circuito de recompensa no vício. Este circuito tem sido implicado no prazer, reforço emocional, aprendizado, busca de recompensas e impulsividade observados nos vícios.
A via dopaminérgica mesolímbica está ligada a três regiões do cérebro para formar os circuitos de recompensa ampliados chamados sistema de recompensa no vício.
Estruturas Envolvidas
Gânglios da Base (Basal Ganglia)
Estruturas: Globo Pálido, Tálamo, Núcleo Caudado, Putâmen.
Função: Concentrações neuronais profundas. Promovem ajustes posturais, realizam movimentos sequenciais e simultâneos, refino de movimentos. Estão envolvidos na fase de “Intoxicação/Compulsão”.
Relação com Vício: Aumenta a importância dos estímulos que levam à recompensa (por exemplo, substâncias ou comportamentos viciantes).
2. Amígdala:
Função: Estrutura responsável por processar bom e ruim, emoções e resgate de memórias. Relacionada com a fase de “Afeto Negativo/Abstinência”.
Relação com Vício: Envolve-se com o processamento da dor, medo e respostas de estresse, levando ao aumento do limiar de recompensa (tolerância) e à busca repetida pelo comportamento viciante para evitar sentimentos negativos.
3. Hipocampo:
Função: Envolvido na memória e aprendizado, pode associar estímulos relacionados à droga a experiências prazerosas, reforçando a compulsão. Está envolvido também na geolocalização e emoções.
4. Córtex Pré-frontal (Prefrontal Cortex):
Função: Relacionado ao pensamento, cálculo, planejamento, funções executivas, controle de medo, regulação emocional e moral. Relacionado com a fase de “Preocupação/Antecipação”.
Relação com Vício: Envolve-se na cognição, função executiva e controle inibitório, sendo afetado pela repetição de comportamentos viciantes, o que leva à diminuição do controle sobre esses comportamentos.
O Ciclo
Relevância do Incentivo: A pessoa percebe a substância ou comportamento como uma fonte de prazer ou alívio, aumentando a motivação para buscá-la. Aqui entra o fator externo que tem como origem a tentação.
Intoxicação Compulsiva: O consumo da substância ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando grandes quantidades de dopamina e outros neurotransmissores, proporcionando uma sensação intensa de prazer (gânglios da base).
Preocupação e Antecipação: A pessoa passa a antecipar o próximo uso da substância, o que aumenta a ansiedade e a compulsão.
Retirada: Quando o efeito da substância passa, a pessoa experimenta sintomas de abstinência, como irritabilidade, ansiedade e depressão, o que a motiva a consumir novamente para aliviar esses sintomas.
Deficiências de Função Executiva: A dificuldade em controlar os impulsos e tomar decisões racionais aumenta a vulnerabilidade ao vício.
Desregulação Emocional: A incapacidade de regular as emoções leva à busca contínua pelo comportamento viciante para escapar de sentimentos negativos.
Ciclo de Reforço: A busca constante pelo prazer e alívio perpetua o ciclo de vício, tornando cada vez mais difícil quebrá-lo sem intervenção.
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Pornografia como Exemplo de Pecado Grave
Um estudo verificou que o consumo frequente de pornografia está relacionado com a redução estrutural e funcional de regiões do cérebro responsáveis por aprendizado (matéria cinzenta do cérebro), tomada de decisão, memória e até o controle emocional, afetando consideravelmente a vida da pessoa, (Kühn et. al, 2014). Foram elas, córtex frontal, putâmen e núcleo caudado.
O núcleo caudado está ligado com o córtex dorso-lateral no lobo frontal (DLPFC — dorsolateral prefrontal cortex) e esta, tem funções como julgamento social, planejamento e tomadas de decisões em relação às memórias resgatadas. Esta região do córtex tambem é consideravelmente menor para os que consomem pornografia.
No mesmo paper, foi destacado redução do putâmen e DLPFC (córtex prefrontal dorsolateral), regiões responsáveis pela interpretação do prazer e capacidade de iteração, empatia e cognição social, respectivamente.
O DLPFC é altamente destacado em sujeits com hábitos de oração, amplamente divulgado em pesquisas na área da neuroteologia, psiquiatria e religião.
Ou seja o pecado reduz o comportamento da oração.
Certo Ítalo se estar no ciclo do pecado causa tudo isso, é possível sair deste ciclo?
Quebra do Ciclo
A quebra deste ciclo se chama libertação, e é obtida com eficácia, espiritual e interior, pelo sacramento da penitência (confissão), realizado por um sacerdote devidamente ordenado. A confissão é uma graça de Deus, um chamado a ser curado pelo Sangue de Cristo que cura, liberta e salva. O efeito da confissão é superior à qualquer efeito psicoterápico pois, o sacramento atua no plano espiritual que em seguida se projeta no sistema emocional, límbico e recompensatório. Além de expor vocalmente o que antes era escondido.
Somente o sacramento da Igreja, por meio de Cristo para “neutralizar” os efeitos internos do ciclo (a intoxicação, retirada e preocupação). Veja que as influências externas ainda podem continuar, a tentação como a importância do incentivo influenciando o estriado (ou ganglios da base), espírito de inquietação influenciando os efeitos negativos (amígdala, putâmen), e espírito de mentira e confusão agindo como desfunção racional (córtex pré-frontal e hipocampo).
Resistir a Tentação (Remodula o Estriado, ou Gânglios da Base);
Cura e Libertação (Remodula a Amígdala, Putâmen e Hipocampo);
Batismo no Espírito Santo e Revelação (Apocalipse) (Remodula Córtex Pré-Frontal).
Para romper ou anular com o ciclo e com as influencias externas citadas, poderia ter sempre uma pessoa relembrando a viciada ou a que se encontra no pecado dizendo para romper cada uma das três: “Não peca mais, não caia nessa tentação”, “não fique triste nem ansioso, vai ficar tudo bem”, “se você pensar bem, vai te fazer mal consumir o pecado novamente, você foi feito para algo maior do que este vício”. Mas nem sempre existe uma pessoa sussurrando fisicamente para lembrar a pessoa, a não ser o próprio anjo da guarda.
Se você quer saber com mais detalhes ainda estas operações, garanta seu exemplar do meu livro ‘O Cérebro Espiritual‘!
Mas para que a atitude da reconciliação com Deus em Cristo aconteça, a pessoa precisa abrir o coração (a mente), por menor que seja abertura realizada por ela. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apocalipse 3,20).
Porque a confissão para quebrar o ciclo? Porque os fatores externos do ciclo conforme a imagem (relevância do incentivo, retirada e efeito negativo, preocupação e antecipação), são fatores espirituais que influenciam a mente para o pecado. É uma luta contra as sugestões induzidas em relação aos efeitos positivos do pecado (ganglio basal), contra os efeitos positivos sensitivos outrora vidas que podem influenciar a antecipação do consumo (cortex frontal, hipocampo e cortex cingulado anterior) e contra os efeitos emocionais que podem causar tristesa, ansiedade e estress (amígdala).
Somente assim o Espírito da Verdade, o Dedo de Deus, o Espírito Paráclito irá realizar a renovação, a metanóia, a mudança de mentalidade, a reordenação da alma, do intelecto, da vontade e memória. “Eis que faço nova todas as coisas” (Apocalipse 21).
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gálatas 1,5).
Bom, eu espero que este artigo tenha sido produtivo para você. Veja que eu não sou contra a medicina, mas sabendo que ela é limitada e que “Para Deus nada é impossível“ (Lucas 1,37), estou aqui de bom gosto e agrado a fim de unir a neurociência e a espiritualidade Cristã.
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Vou deixar abaixo o vídeo gravado sobre este assunto para você e em sequência as referências.
Quem como Deus?
Referências:
Kühn, Simone; Gallinat, Jürgen (2014). Brain Structure and Functional Connectivity Associated With Pornography Consumption. JAMA Psychiatry, 71(7), 827–. doi:10.1001/jamapsychiatry.2014.93
De Sousa, Avinash, and Pragya Lodha. "Neurobiology of Pornography Addiction–A clinical review." Telangana journal of psychiatry 3.2 (2017): 66.
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Catecismo da Igreja Católica. Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
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